segunda-feira, 5 de março de 2007

PaisAgindo

“Considera-se a paisagem como sendo o resultado material de todos os processos (naturais e sociais) que ocorrem em um determinado sítio. A paisagem é portanto construída a partir da síntese de todos os elementos presentes neste local e sua apreensão se dá pela imagem resultante dela. Uma paisagem é tudo que posso ver ao meu redor, isto é, tudo o que posso ver numa extensão ou espaço.”
Essa definição de paisagem, retirada da Wikipedia, foca a importância do olhar do indivíduo sobre um determinado espaço. Para mim, a paisagem também é a cara do tempo. É a comunhão dos vetores tempo/espaço. Não é apenas visual seu impacto.
Eu nasci em São Paulo, contemplando uma paisagem urbana, artificial, de cinza e luzes coloridas. Meus escapes eram férias no litoral ou em fazendas, onde encontrava o aconchego do verde, da paisagem natural.
Quando vim para Portugal, meu olhar encontrou outra paisagem. O que via era diferente. Nem melhor, nem pior, era apenas diferente. Enquanto turista, essa diferença é tonificante, entusiasma! Quando residente, estranha-se.
Eu adoeci de paisagem. Quando conheci a Serra de Estrela, o ponto mais alto de Portugal, era o início da primavera e a neve já tinha derretido quase na totalidade, deixando desnudas as pedras. Via a rudeza do granito, o cinza, a ausência de vegetação. Não gostei; estranhei. Não era a minha paisagem e percebi o quanto meu país age no meu íntimo, na percepção do ambiente que me rodeia.
Hoje me curei de paisagem; conheci o Norte de Portugal onde reencontrei o verde, a umidade e o caráter que isso confere às pessoas. Reconheci o meu país agindo novamente e dizendo que essa era “minha” paisagem. A qual pertenço agora.
E por fim, entendo o que é essa famosa forma lusitana de estar, que é a saudade, por ter a paisagem desse imenso mar: o muro líquido de tragédias, aventuras, riquezas, perdas e ganhos.
Fico imaginando como seria a consciência da paisagem em outros tempos. Acredito que, por exemplo, na Idade Média, as únicas pessoas verdadeiramente conscientes da paisagem eram os “bruxos” por terem a consciência dos quatro elementos. Os “bruxos” eram queimados. Na Renascença, haviam mais pessoas, não necessariamente “feiticeiros” com essa visão. Já não iam todos parar à fogueira. No Iluminismo, essa consciência já se aproximava do aceitável, na medida em que haviam mais pessoas com percepção do que isso significava. Hoje é imperiosamente necessária.
Quando referi que a paisagem agia em mim, era para conseguir entender como eu poderia ser ativa e agir sobre esta. Como posso ter essa consciência do que me rodeia e paisagir? Penso que passa por, pelo menos, educar o olhar. A partir daí, passo a entender, por exemplo, que esse ou outro elemento arquitetônico é todo simétrico e cheio de ângulos retos, representando uma ditadura qualquer. Passo a entender a linguagem da natureza com seus ritmos e nuances, que nunca se repetem e que me ensinam a ser contemporânea do pulsar natural.
“Paisagir” é sentir esse ritmo, educar o olhar, por fim, mudar. Agir no ambiente, ou não, mudando de hábitos, procurando o equilíbrio.
Nem que isso passe, apenas, por mudar um vaso na janela!

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